A nova rodovia que irá conectar a região Norte de Santa Catarina à Grande Florianópolis, o Eixo Rodoviário Via Mar, promete reduzir o tempo de viagem em um trecho que sofre com congestionamentos constantes. De acordo com a Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), a estimativa para veículos de carga é que a redução no tempo total de viagem no trecho seja de 2h30.
O presidente da Fetrancesc, Dagnor Schneider, diz que a redução no tempo total da viagem para caminhões deve ser de cerca de duas horas e meia. Ainda, é esperado uma diminuição no número de acidentes no trecho.
— Representa menos tempo de viagem, acabar com o anda – freia que tanto prejudica os veículos. Haverá redução de emissão de poluentes e acima de tudo, representa mais segurança para todos que usam a rodovia. A falta de estrutura rodoviária implica em um número maior de acidentes e mais vidas que se perdem nas estradas. O trecho Norte da BR-101 em Santa Catarina tem cinco dos 10 trechos mais perigosos em rodovias do Brasil — afirma.
Alívio no trecho Norte da BR-101
As ordens de serviço de quatro dos cinco lotes da rodovia foram assinadas no final do mês de outubro, e agora a proposta se encontra na fase inicial de elaboração do projeto, segundo o Governo do Estado.
A obra surge como solução para os problemas enfrentados no trecho Norte da BR-101, que costuma enfrentar filas e congestionamentos constantes, que se intensificam na temporada de verão. A Fetrancesc estima que os problemas no trecho causem um prejuízo de R$ 1 bilhão por ano em gastos adicionais, como combustíveis e perda de produtividade, para o setor de transportes.
— A partir do momento em que a rodovia [Via Mar] for disponibilizada, o setor de transporte de cargas vai deixar de suportar todo esse gasto adicional, pois infelizmente, esses valores não têm sido transferidos para as tarifas de frete — explica o presidente da Fetrancesc, Dagnor Schneider.
O presidente da Câmara de Transporte e Logística da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Egídio Martorano, aponta que o trecho Norte da BR-101 tem hoje o nível mais precário de serviço entre as rodovias federais catarinenses, segundo a metodologia Highway Capacity Manual (HCM), que classifica a eficiência rodoviária.
— Os segmentos nos municípios de Palhoça, São José, Biguaçu, Itapema, Balneário Camboriú, Itajaí, Navegantes, Joinville, apresentam os níveis de serviços “E”, o que significa 50% a 80% de possibilidade do usuário de chegar atrasado no seu destino – sendo que, em determinados dias da semana e horários podem apresentar o pior nível “F”, o que significa que o usuário tem 100% de possibilidade de chegar atrasado — destaca.
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O problema crônico no trecho, de filas e congestionamentos, ocorre pela somatória do aumento da taxa de motorização, com a crescente compra de veículos, e ausência de infraestrutura rodoviária suficiente para atender a demanda, assim como de um sistema de transporte de passageiros pouco eficiente.
Tudo isso é intensificado pelo alto fluxo de caminhões devido à presença de complexos portuários na região e a movimentação intensa de turistas. É o que reforça Rodolfo Nicolazzi Philippi, coordenador de projetos do Laboratório de Transportes e Logística da Universidade Federal de Santa Catarina (LabTrans/UFSC).
— A região do litoral norte catarinense é altamente atraente, em termos comerciais e turísticos. A existência do Porto de Itajaí, aliada à uma política de incentivos fiscais proporcionados pelo Estado, faz com que empresas, principalmente as voltadas à importação e exportação, se instalem nas proximidades do porto gerando, com isso, uma grande movimentação de caminhões. Em termos turístico, o litoral conta com praias muito procuradas, destacando-se Balneário Camboriú — pontua.
Mas a Rodovia Via Mar será suficiente?
A estimativa da Fiesc é que, ocorrendo sem percalços, entre processo de projeto e a implantação da rodovia, a obra seja concluída no terceiro trimestre de 2031. O Governo do Estado, por enquanto, divulga somente o prazo de execução dos projetos, que é de 24 meses.
O secretário-adjunto de Infraestrutura de Santa Catarina, Ricardo Grando, e o governado Jorginho Mello, destacaram no evento de assinatura das ordens de serviço que a intenção é adiantar esse prazo para 18 meses.
Ou seja, seguindo a projeção da Fiesc, sete anos separam o momento atual, que já é de caos no trecho Norte da BR-101, da concretização do que é visto como solução para o problema.
Assim, surge a dúvida: com um prazo longo de conclusão, a rodovia corre o risco de já estar defasada antes mesmo da inauguração e não conseguir suprir a demanda, que deve continuar a crescer?
O engenheiro Rodolfo Nicolazzi Philippi, do LabTrans/UFSC, afirma que sim.
— A iniciativa pode, sim, aliviar o congestionamento dando maior vazão ao fluxo de veículos, da mesma forma como aconteceu na região de Florianópolis, com a recente inauguração do contorno viário na BR-101. Contudo, ao longo do tempo, o espaço fornecido aos veículos, de carga e de passageiros, é também ocupado, provocando nova saturação. Ou seja, o problema não é resolvido e sim adiado —destaca.
Ele defende que a fluidez dos veículos de carga e passageiros deve ocorrer, mas por um período temporário. Assim, é importante pensar em outras alternativas de modais de transporte além de uma nova rodovia.
O presidente da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc destaca a importância de acelerar os projetos de engenharia que já estão em andamento, assim como o segmento Itajaí – Contorno de Florianópolis, que ainda não teve as ordens de serviço assinadas, como os demais lotes.
Egídio Martorano alega ainda que a Fiesc propôs em um uma análise referente ao trecho que a nova rodovia tenha, no mínimo, pista dupla, e também que as áreas de domínio e “non aedificandi” sejam preservadas para futuras expansões. A proposta apresentada pelo Governo do Estado no dia 23 de outubro conta com pista tripla nos dois sentidos.
— Outra proposta da Fiesc no estudo é que sejam definidos periodicamente parâmetros de desempenho operacional com transparência, no sentido de identificar restrições na qualidade do pavimento e a eficiência para o acionamento de gatilhos de investimentos necessários para manter a eficiência – sendo desta forma proativo — explica Egídio.
O presidente da Fetrancesc reforça também a urgência da obra, visto a situação atual da BR-101 e a crescente demanda no trecho, que deve levar a mais filas nos próximos anos caso não sejam adotadas outras medidas.
— Lamentavelmente, a obra já está atrasada, assim como tudo o que diz respeito a planejamento em infraestrutura rodoviária em Santa Catarina. Devíamos estar inaugurando essa rodovia, mas ainda estamos na fase inicial. Os próximos anos serão de caos diário na BR-101 Norte, ainda pior do que é hoje. Nós precisamos que, tanto o Governo do Estado, quanto todos os entes envolvidos neste projeto tenham o senso de urgência dessa obra, para que ela seja realizada no menor prazo possível — afirma.
A Secretaria de Estado da Infraestrutura e Mobilidade de Santa Catarina (SIE) afirmou que projetos de grande porte de obras rodoviárias levam em consideração projeções de aumento de fluxo de veículos, para evitar essa situação de defasagem.
Em relação à Rodovia Via Mar, o Governo do Estado projeta que essa nova via deve fluir com normalidade de trânsito pelos próximos 25 anos, por conta dos detalhes que serão definidos nessa fase de projetos e também contando com a projeção de uma rodovia de até três pistas em cada sentido.
Impactos da nova rodovia
Ainda que corra o risco de estar defasada quanto pronta, a rodovia Via Mar promete ser a solução para os constantes congestionamentos na BR-101 no Norte do Estado e deve ser a principal obra de infraestrutura em andamento no Estado nos próximos anos.
Entre os reflexos esperados com a implementação do projeto estão a redução do tempo em que é feito o trajeto de Joinville a Florianópolis, trecho que atualmente registra diversos pontos de fila, mesmo fora de horários de pico. Essa redução é estimada em duas horas e meia pela Fetrancesc.
Além disso, o número de acidentes pode diminuir. Segundo dados do Painel de Acidentes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), levantados pela Fiesc, Santa Catarina teve o trecho da BR-101 com maior número de acidentes em 2023, somando 4.113 ao todo. O trecho Norte teve 77% dos acidentes da rodovia no período, equivalente a 3.165 acidentes, e 85 mortes (73% do total na rodovia).
O presidente da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc destaca a magnitude do projeto, como ação de médio e longo prazo, com impactos diretos na economia catarinense, que deve ganhar com a obra.
— Todos os setores da economia catarinense serão beneficiados com esta rodovia, que possui grande movimentação de veículos de cargas e passageiros – em função da grande atividade econômica do entorno, por abrigar um dos mais importantes complexos portuários da América do Sul e uma crescente movimentação turística — relembra o presidente.
Dados levantados pela Fiesc mostram que no entorno do trecho Norte da rodovia estão instalados cerca de 106,8 mil estabelecimentos, entre os setores industrial, comercial, serviços e agropecuário, que empregam cerca de 1 milhão de trabalhadores, e geram R$ 67,2 bilhões de tributos federais, R$ 17,1 bilhões em arrecadação de ICMS e um PIB de R$ 200,7 bilhões.
O que fazer até lá?
Dagnor Schneider, da Fetrancesc, reforça a necessidade de manter a trafegabilidade da BR-101 no trecho Norte, já que a rodovia desempenha papel essencial para Santa Catarina. Contudo, ele vê obras na rodovia como paliativas frente ao desafio do planejamento de tráfego no Estado.
— Não podemos nos contentar com pequenas obras na BR-101, que terão efeito por muito curto prazo. Precisamos e devemos lutar por uma solução efetiva, que é a Via Mar. É papel da Fetrancesc cobrar as melhorias necessárias e trabalhar em parceria para a viabilização de soluções duradouras — alega Schneider.
Já Egídio Martorano, da Fiesc, fala da importância de investimentos no curtíssimo prazo para ampliação da capacidade da BR-101. Uma proposta de extensão da concessão do segmento pelo Ministério dos Transportes está em curso no momento, e a alegação da Federação das Indústrias é que o processo já incorpore investimentos necessários para melhorar a trafegabilidade no local.
— A Fiesc avaliou a proposta de obras como terceiras faixas, marginais e entroncamentos e concluiu que o proposto não seria adequado para manter um nível de serviço razoável até 2047. Este documento foi enviado ao Ministério dos Transportes e para o Fórum parlamentar e elenca obras que devem ser incorporadas para a proposta de repactuação — explicou Egídio Martorano ao NSC Total.
Assim, o economista reforça como necessário para melhorar o trânsito na região que o processo de repactuação inclua investimentos no curto prazo em faixas adicionais, marginais e melhorias nos entroncamentos, assim como outras obras relacionadas com a ampliação de capacidade.
Estudos apresentados pela Fiesc trazem também outras soluções para o trecho, como:
- Implantação de sistemas de inteligência de tráfego;
- Pedágio variável com tarifas menores fora do horário de maior movimentação;
- Utilização de motocicletas “motolância” para atendimento de acidentes;
- Preservação das áreas contíguas e de domínio da rodovia;
- Avaliar o aumento do limite de velocidade em segmentos que não comprometam a segurança;
- Free Flow (pedágio por quilômetro rodado).
O coordenador de projetos do LabTrans/UFSC traz como ideias de soluções, ainda, a implantação de serviços ferroviários e aquaviários na região, com possibilidade de facilitar o transporte de cargas e também de passageiros.
— O porto de Itajaí, entre os maiores do país, é o único que não possui acesso ferroviário. Uma ferrovia, paralela à BR-101, seria, também, uma solução para o transporte de passageiros. Da mesma forma um sistema de transporte aquaviário seria uma ótima alternativa. A construção de terminais em regiões estratégicas do litoral facilitaria, sobremaneira, o fluxo de pessoas, com os seus respectivos motivos de viagem — finaliza.